Ajoelho-me e rezo sob esta parede cinza morna e oca
O burburinho quer esconder-me atrás dos (teus) ombros
Teu sorriso não mora mais em mim nem na minha boca
Meus olhos enxovalhados decaem (em) plenos escombros!
As nuvens empurram-me todas as noites contra o teu corpo
Já nem o peito cheio d’afagos da lua engravida meus dias
Há ao fundo da rua um quarto esfumado em mármore morto
E uma poeira dormente que me sussurra palavras frias…
Nem sei falar-te do naufrágio que me cresce nas unhas
Só sei que (sobre)vivo no pretérito (im)perfeito
Quero esquecer-me das músicas que com o olhar compunhas
E dos versos que me rasga(va)m o peito!...
Às vezes, pergunto por ti à vida
Que te levou ainda eu estava a chorar
Adormeceste ao meu colo na despedida
Deixei-te partir! Com tantas razões p’ra te acordar!…
Esta pena que te cospe em gol(p)es duros
É a linha que impede a passagem dos muros.
Como posso crer que Deus é perfeição?
Só existe orvalho tépido no meu coração!
Podes pintar meus lábios com os teus lápis de cor?
Ou será demais pedir-te que faças isso, meu amor?!
07.06.12