Há pele na alma
Há alma na pele.
Há bicos de pássaros que mordem
Cicatrizes que adormecem
Gestos que moldam
Como oleiros cuidam
Das suas obras de arte em extinção.
O ouro pincela a alma a rigor
E (en)cobre a pele que se debruça
No limiar dos sonhos em tons de prata.
Há vistas paralelas
Persianas a preto e branco
E sons que ressurgem do vazio
Debaixo da carne.
Há espíritos comuns a todos os imortais
É esse o meu segredo
Sou um deles
Exponho-me como a branca cal
São escassos os medos
Para que a fonte me liberte
Sempre.
Duvido
Para viver entre a magia dos passos
Descarto horas, minutos e até segundos
E concluo – sem concluir – que é cada vez mais
Invulgar o meu lugar no mundo.
Falo na primeira pessoa
Mas podia falar por meia dúzia.
Construo ideologias
E creio muito pouco
No que (me) dizem.
Peles envelhecidas
Trazem sabedorias
Ainda carregadas de sentido
Ouço-as. Assimilo-as.
E vou fazendo os meus próprios juízos
Desbravando caminhos
Do que julgam ser inatingível.
Sou um corpo antigo
Numa alma rejuvenescida
Este é o meu ponto de equilíbrio
Jamais me darei por vencida.
Sei o que almejo
O que é longe
Ao perto já o vejo
Traço metas
Construo caminhos
Faço das curvas, retas
Imperfeitas
E encontro-me com o destino.
Esta é a minha independência
Ser o que quero ser.
Há escondida uma pequena ânsia
Que, amiúde, me impede de viver.
Há eus em todos os cantos
E o meu espanto
Revejo-me em todos eles
Na verdade não sou nenhum deles.
Gosto e evito
Os conflitos
Faço e refaço(-me) todos os dias
Não há noites iguais
A lucidez é maior que minhas alegrias.
Há pele na alma
E alma na pele
Vou sangrando
À medida que cresço.
Não espero compreensão
Nem aceitação
Tudo isso parte de mim.
- Interiorizo -
11.03.17