segunda-feira, 13 de março de 2017

O MEU LUGAR (NO LIMIAR DOS SONHOS)



Há pele na alma

Há alma na pele.


Há bicos de pássaros que mordem

Cicatrizes que adormecem
Gestos que moldam
Como oleiros cuidam
Das suas obras de arte em extinção.

O ouro pincela a alma a rigor

E (en)cobre a pele que se debruça
No limiar dos sonhos em tons de prata.

Há vistas paralelas
Persianas a preto e branco
E sons que ressurgem do vazio
Debaixo da carne.


Há espíritos comuns a todos os imortais

É esse o meu segredo
Sou um deles
Exponho-me como a branca cal
São escassos os medos
Para que a fonte me liberte
Sempre.

Duvido
Para viver entre a magia dos passos
Descarto horas, minutos e até segundos
E concluo – sem concluir – que é cada vez mais 
Invulgar o meu lugar no mundo.


Falo na primeira pessoa
Mas podia falar por meia dúzia. 

Construo ideologias
E creio muito pouco
No que (me) dizem.


Peles envelhecidas
Trazem sabedorias
Ainda carregadas de sentido
Ouço-as. Assimilo-as.
E vou fazendo os meus próprios juízos
Desbravando caminhos
Do que julgam ser inatingível.


Sou um corpo antigo
Numa alma rejuvenescida
Este é o meu ponto de equilíbrio 
Jamais me darei por vencida.


Sei o que almejo
O que é longe
Ao perto já o vejo
Traço metas
Construo caminhos
Faço das curvas, retas
Imperfeitas 
E encontro-me com o destino.

Esta é a minha independência
Ser o que quero ser.
Há escondida uma pequena ânsia
Que, amiúde, me impede de viver.

Há eus em todos os cantos
E o meu espanto
Revejo-me em todos eles
Na verdade não sou nenhum deles.


Gosto e evito 
Os conflitos
Faço e refaço(-me) todos os dias
Não há noites iguais
A lucidez é maior que minhas alegrias.


Há pele na alma 
E alma na pele
Vou sangrando 
À medida que cresço.


Não espero compreensão
Nem aceitação
Tudo isso parte de mim.

- Interiorizo -



11.03.17
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